02 janeiro 2010

Por Que existe Ópera ?



Por Que existe Ópera ?

Odeio Ópera ! Fico tentando imaginar o que pode ser mais chato e irritante do que uma bela Ópera.
Aquele clima de gala, Channel nº 5 e Colônia Pinho Campos do Jordão misturados no ar, desafiando as narinas alérgicas. Peles, brilhos, naftalinas, sedas de cores sóbrias, sapatos de cromo alemão e fraques do casamento do filho do irmão, tudo aguardando o apagar das luzes.
As cortinas se abrem e o show vai começar... O espetáculo de luzes se resume a um foco. Um foco ! Um jato de luz sobre um cara bochechudo que mais parece um provolone vestido de noivo.
Existem atores que entram em cena e congelam, saem de cena... Que esquisito.
Está criada uma atmosfera que anuncia um grande acontecimento. O público na expectativa... - Agora rola ! diz a madame ao meu lado ( moderninha, não ? ) e que por sua vez está ladeada pelo marido narigudo que ainda não tinha acordado do desmaio provocado pelo aperto excessivo de sua gravata borboleta vermelha... Sorte a dele !
E a coisa parece que vai mesmo... Mas é Ópera ou Balé ? Tem dançarinos perdidos em cena, rodopiando suas plumas e collants
pelo palco. Até que após segundos mudos e surdos, o Tenor ou Barítono, sei lá, começa a gritar. A garganta do cara parece uma turbina de avião a jato. E que língua era aquela, meu Deus ?? Seria Aramaico Arcaico ou Italiano do Século Meio AC ?... Não dava para entender uma maldita palavra... Nem uminha !
A mulher ao meu lado, cujo marido acordava assustado imaginando estar no pregão da Bolsa de Valores, chorava como uma doida e devia ser de raiva, eu creio, ou de vergonha por achar ser a única a não entender o que o Provolone berrava aos sete ventos. Um horror total aquilo! E que piorou ainda mais quando entrou em cena um casal fantasiado, ele de Pingüim e ela de Cinderela.
Bem que eles podiam ser polidos e educados e explicar o que o Provolone gritava insuportavelmente. Explicar em voz baixa, didaticamente, para que todos os Visons entendessem o que se passava. Que nada... O troço virou feira livre. Mais gritos e berros espetaculares e estrondosos. Se eram palavrões, nem imaginávamos. A esganiçada da Cinderela ficava até vermelha... Coitada. Imagino o que passa em casa o marido dessa donzela. Se eu fosse ele, eu a empurraria para dentro de um poço e lacrava a boca, dela... E o outro, o Pingüim, com cara de sapo-boi, nem te conto. O homem era nada mais que um megafone transcendental insuportável.
E o meu saco explodindo. A mulher do meu lado, chorando sem parar, os penteados das madames desmoronando com a vibração e finalmente, depois que o Provolone berrou uma, somente uma palavra durante três minutos e quarenta e oito segundos cronometrados, o silêncio se fez.
Os três se deram as mãos, adiantaram-se e se curvaram... Acho que com medo de chuva de ovos e tomates ou algo próximo que imaginavam receber. Na seqüência viraram-se e saíram rápido ( não são bobos...), talvez porque nem eles mesmos se suportem. A cortina subia e descia freneticamente e as luzes produziam efeitos especiais engraçados. Talvez tudo isso tenha sido quebrado pelos berros alucinantes daqueles três chatos incompreensíveis.
E o público em pé, aplaudia veementemente o fato deles terem ido embora. Quiçá para sempre !!!...E gritavam : - Bravo !!, Bravo !!!
E eu que achava que só eu é que tinha ficado bravo com aquela coisa infernal.
Quando acenderam a luzinha vermelha que indicava a saída, foi a maior felicidade da minha vida. Eu podia finalmente caminhar até o meu carro e ir para a minha casa ouvindo meus Blues.
Para vocês verem, até a mulher que estava ao meu lado, parou de chorar e o marido dela, ainda meio roxo, perguntou-me baixinho em som rouco : - Você sabe tirar essa porcaria dessa gravata do meu pescoço?
Odeio Ópera !!! Coisa de doente mental essa coisa chata. Aliás, a palavra...”Odeio”, tem cinco letras. Deveriam inventar uma palavra “Odeio”, com umas cinqüenta letras, para que eu pudesse gritá-la com todos os meus pulmões no ouvido daquele desgraçado do Provolone por uns vinte minutos ininterruptos.
Odeio Ópera !!!
Essa droga me instiga à vingança.


Renato Baptista

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6 comentários:

Sonia Sambra disse...

Renato, hilário seu texto! ri muito aqui enquanto imaginava a cena todinha formada em minha cabeça... ah! inclusive a apertada gravata borboleta do seu vizinho de cadeira.
Eu gosto de algumas óperas. Inclusive, assisti uma de Carl Off - Carmina Burana há uns (inconfessáveis) anos atrás... e AMEI!
Concordo que algumas óperas são chatas mesmo...rsrsrs

Parabéns pelo texto!

She disse...

Olá! Vim agradecer a visita, retribuir e desejar um feliz 2010!
Beijos!
She.

Anónimo disse...

Le diré lo mismo como su otro blog, de pura descuidada no lo he visitado y ni comentado. Pero créame, ahora sí que va ser más seguido.

Saludos.

Karla Gisele disse...

Olá Renato!
Primeiramente, quero agradecer a sua visita. Estou um pouco em falta com os meus seguidores, em meu segundo blog. Fato que pretendo mudar logo!

Contudo, adorei o seu texto, imaginei as cenas a cada linha e concordo com a sônia: hilário! Tb ri muito!

Parabéns por esse espaço antenado, bem escrito e de muito bom gosto.

www.universoparticular.net
www.todamulherprecisa.com

ONG ALERTA disse...

Tudo é belo para quem quer ver belo, enfim cada um pode ou não gostar de algo, ópera são maravilhosas com história de amor e paixão mas tudo ao seu tempo.

Paulo Tamburro disse...

Excelente este seu texto , e de raríssima inteligência e correto questionamento.

É a mais pura realidade.

Então estou lhe convidando para participar de outra "realidade", que é a minha mais nova crônica de humor, no HUMOR EM TEXTOS: PANELAS DE TEFLON.

Um abração carioca.