15 setembro 2009

A Ponta da Praia



A Ponta da Praia

E ali estava eu, novamente parado frente ao mar... Como se ainda ouvisse o marulhar das águas nas pedras que estavam sob os meus pés úmidos e frios.

Meu olhar penetrava reto e profundo o horizonte, querendo encontrar o primeiro raio de sol que iria aquiescer-me do frio de tão longa espera. Não era a primeira, mas a mais longa de todas as esperas.

Não sei porque, mas o encontro daquele momento, bordou de tão bela a minha maldade humana, que tudo levava meu pensamento mar adentro. E ele se misturava com aquele estranho bailar dos peixes que, eu sinto, algo queria dizer-me. Mas eu não compreendia. Luzes estranhas, âncoras perdidas e gemidos vazios mesclavam-se no emaranhado de água, sal e pensamento.

Nada, nem um raio de sol. A água ali estava, escura, fosca, mas eu a via, a sentia translúcida. Montanhas erguiam-se do nada à minha volta e assim se perdiam no mundo que sustentava meu corpo... Ouvi gritos muito perto de mim. Incrível como isso ocorrera, pois meu mundo era outro e eu na realidade não estava ali.

Lembrei-me quando fui pela primeira vez à ponta da praia. Foi num dia, apenas num dia. Ela estava vazia e úmida... Exatamente como a sinto agora.

... Mas cá estou eu novamente. Vejo-me outra vez em pé sobre as pedras da praia. Começo a sentir a água fria subindo por minhas pernas. Sinto cada grão de areia que tanto me ensinou. Na realidade, cada um faria parte do meu pensamento. Cada um deles seria o meu Eu. E todos ali... À minha volta.

É estranho agora, pois nada ouço e já está tão escuro, sombrio. Caí então de joelhos, meu corpo estava cansado. Um clarão enorme. Projetei-me à frente desesperado à procura do meu raio de sol. Meu pensamento parara e com um esforço descomunal coloquei-me ereto. Tudo girava, menos o mar. Ele ainda jazia lá, bem à minha frente.

Tentei então avançar uma das pernas, mas... Quais pernas ?

Eu não as sentia. Eu não me enxergava mais. Nunca me enxerguei. Por que seria agora ?

E então ? E os bailados, as âncoras, as areias ?

...Só um grão sobrara, e ele boiava bem à minha frente. E foi indo, indo, o mar abriu seus braços, as montanhas explodiram, os peixes gargalharam, o vento sorriu, o sol mergulhou nas águas e eu me atirei. Atirei o que sobrara de mim contra os braços que eu tanto esperei.

...Mas o grão de areia afundou.

Renato Baptista