22 janeiro 2010

A História do garoto que pegou Pneumoultramicroscopicosilicovulcanicoconiotico - ARTHUR BAPTISTA


A História do garoto que pegou Pneumoultramicroscopicosilicovulcanicoconiotico

John era um garoto que morava no Hawai, uma ilha que tem muitos vulcões...
Ele tinha apenas 11 anos e nunca tinha visto um vulcão entrar em erupção e desde que nasceu ele ouve histórias de que todos os vulcões do Hawai estão extintos, a não ser um...
O VULCÃO NEGRÃO (o vulcão mais temido por todos os Hawaianos desde o século 01 a.C.)
John sempre sonhava com o vulcão negro, ou melhor tinha pesadelos...
Outra característica de John é que ele amava bebês, pois ele não podia ver nada de ruim acontecendo com um bebê que ele enfrentava qualquer coisa para salvá-lo.
Passa-se o tempo e John completa 20 anos... Ele já tinha desencanado da idéia de que o Vulcão Negrão ainda poderia entrar em erupção algum dia.
Foram muitos anos de terror até que um dia, aos 15 anos ele até pediu para sua mãe para que mudassem de país, só que seu pedido foi recusado e uma vez aos 18 anos ele tentou se matar de desespero com medo de que o vulcão explodisse.
Contarei a história do dia em que ele tentou se matar:
- Dia 18 de Outubro de 2002, John completamente transtornado com aquele vulcão, diz que não agüenta mais e vai se matar, mas... De que jeito?
John pensou, pensou e pensou e chegou a conclusão de que ele iria pular dentro do vulcão. Na hora em que ele chegou na frente da cratera ele perdeu um pouco de sua coragem, mas mesmo assim foi em frente e encarou o enorme vulcão. Foi aí que viu que dentro dele não havia um buraco bem fundo com todos os vulcões tem. Ali dentro tinha um parque de diversões gigante.
John, feliz, aliviado e com cara de bobo se divertiu o dia inteiro...
Belo dia pra quem ia se matar hein???!!!!
Até aí estava tudo bem, o problema foi quando ele chegou em casa e ligou a TV... Oh não, ele descobriu que aquele não era o Vulcão Negrão e sim o vulcão da Diversão... O Vulcão Negrão ficava a 18 Km dali, ele havia errado o lugar. Decepcionado, triste e preocupado John vai dormir... Ai meu Deus ! Só de pensar que aquele vulcão realmente existe, o trauma e o medo de John voltaram imediatamente e sua vida voltou a ser como era antes... Um transtorno.
Os anos se passaram e John, com 22 anos estava em seu escritório trabalhando, quando de repente, tudo começa a tremer. Ele olha pela janela para ver o que aconteceu e imaginem só o que era...
O VULCÃO NEGRÃO EM ERUPÇÃO... EXPLODINDO...
John fica completamente desesperado, mas não é do jeito que vocês estão pensando não, John estava completamente louco, fora de si, alucinado, berrando sem saber o que fazer, pois a lava invadia tudo e estava até chegando ao seu escritório. Aquele vulcão dava para ser visto da cidade inteira.
Meia hora depois, a cidade estava um caos. Todos se escondendo desesperados e John permaneceu em seu escritório... Acalmou-se um pouco, sentou no canto e começou a chorar, a chorar muito, muito mesmo. Seu chefe estava demais preocupado com o estado de John porque ele nunca havia visto uma pessoa num estado daquele.
Uma hora depois a lava já invadia praticamente a cidade inteira, muitas pessoas morrendo e John em seu escritório. Quando de repente John vê um menino, um menino não, um bebê (tinha no máximo 5 meses) no meio da lava chorando muito. John arregalou os olhos vermelhos de tanto chorar, tirou a camisa, arrancou a tábua de sua mesa e montou um tipo de barquinho muito forte. Como o vulcão ficava longe dali e a lava estava pouca ainda naquela região, tão pouca, que não era nada que o barquinho de John não agüentasse.
John saiu do escritório e com seu barquinho foi até o neném, e o resgatou . Na volta, o barquinho virou e John se queimou muito mas, mesmo assim, conseguiu segurar o bebê no alto, de uma forma em que o fogo não o alcançasse. John sem forças levantou –se rapidamente e foi sofrendo muito para o seu escritório carregando o bebê. Chegando lá, ele viu que o bebê estava com fortes queimaduras mas não sofria risco de vida. Mas ele estava com muitas queimaduras de 3º grau. John entendia de medicina, e por causa do seu trauma com o vulcão, ele tinha sempre guardado em sua gaveta um spray de super-gelo fabricado no Japão, mas que ainda estava em fase de testes - antiqueimadura de lava vulcânica. John havia pago
U$ 400.000.000 naquele spray, só para vocês verem o desespero que ele tinha da coisa.
Nosso John rapidamente pegou o seu spray e pediu para o seu chefe espirrar em suas costas por completo e nas queimaduras do bebê... Ufa! Que alivio que deu em John... Ele começou a perceber que pela graça de Deus, aquele produto ainda em testes, funcionava.
Um ano depois, a cidade já tinha sido reconstruída, tudo havia voltado ao normal e John em processo de cura das queimaduras ainda estava no hospital. O bebê foi salvo e órfão, iria morar na casa de John quando este saísse do hospital.
Alguns dias depois, com John ainda internado, chega uma mulher correndo que nem uma louca na sala onde ele estava, chamando pelo seu filho. A mãe do bebê tinha achado o paradeiro de seu filho e muito emocionada pega o neném no colo e chora sem parar... John também emocionado conta a história para a moça que o agradece muito e muito mais.
Agora John está sozinho em sua sala do hospital, quase recuperado, quando de repente, ele começa a tossir, tossir muito e os médicos entram desesperados e começam a fazer exames nele.
No dia seguinte, o médico chega todo desanimado com a resposta dos exames e diz:
- Desculpe John, mas você pegou Pneumoultramicroscopicosilicovulcanicoconiotico !!!
John fica meio assustado mas procura se informar com o médico sobre a doença, descobrindo que ela é causada pelas cinzas vulcânicas. Ele era tão traumatizado que já sabia que ia ter algo sério em sua vida causado por algo do vulcão, mas enfim, a noticia boa havia de chegar.
Ele então recebe a notícia de que o vulcão fora extinto e que sua doença só se pega uma vez na vida.
A doença era bem difícil de ser curada mas no caso dele estava fácil pois estava no nível 1 de 5.
Foram meses e meses de tratamento e sofrimento até que pela graça de Deus, novamente ele estava curado e depois de um ano ele estava livre para curtir sua vida que estava ainda no começo.
John acabara de completar 24 anos e voltou para sua casa sem mais preocupações, casou-se, teve filhos e continuou sua vida muito feliz...
Claro que ele contou a história para os seus filhos, mas depois pediu para eles não ficarem comentando pois ele não queria nem lembrar daquela parte ruim de sua vida e sim da boa que é a que ele estava vivendo no momento.
E esta é a história de John, o garoto que pegou Pneumoultramicroscopicosilicovulcanicoconiotico.


Obs: Esta doença existe de verdade, e foi descoberta em 2001. É causada pelas cinzas vulcânicas. Ela foi considerada a maior palavra do mundo entrando para o Guiness-Book 2002.

Arthur Baptista – O Contista

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02 janeiro 2010

Por Que existe Ópera ?



Por Que existe Ópera ?

Odeio Ópera ! Fico tentando imaginar o que pode ser mais chato e irritante do que uma bela Ópera.
Aquele clima de gala, Channel nº 5 e Colônia Pinho Campos do Jordão misturados no ar, desafiando as narinas alérgicas. Peles, brilhos, naftalinas, sedas de cores sóbrias, sapatos de cromo alemão e fraques do casamento do filho do irmão, tudo aguardando o apagar das luzes.
As cortinas se abrem e o show vai começar... O espetáculo de luzes se resume a um foco. Um foco ! Um jato de luz sobre um cara bochechudo que mais parece um provolone vestido de noivo.
Existem atores que entram em cena e congelam, saem de cena... Que esquisito.
Está criada uma atmosfera que anuncia um grande acontecimento. O público na expectativa... - Agora rola ! diz a madame ao meu lado ( moderninha, não ? ) e que por sua vez está ladeada pelo marido narigudo que ainda não tinha acordado do desmaio provocado pelo aperto excessivo de sua gravata borboleta vermelha... Sorte a dele !
E a coisa parece que vai mesmo... Mas é Ópera ou Balé ? Tem dançarinos perdidos em cena, rodopiando suas plumas e collants
pelo palco. Até que após segundos mudos e surdos, o Tenor ou Barítono, sei lá, começa a gritar. A garganta do cara parece uma turbina de avião a jato. E que língua era aquela, meu Deus ?? Seria Aramaico Arcaico ou Italiano do Século Meio AC ?... Não dava para entender uma maldita palavra... Nem uminha !
A mulher ao meu lado, cujo marido acordava assustado imaginando estar no pregão da Bolsa de Valores, chorava como uma doida e devia ser de raiva, eu creio, ou de vergonha por achar ser a única a não entender o que o Provolone berrava aos sete ventos. Um horror total aquilo! E que piorou ainda mais quando entrou em cena um casal fantasiado, ele de Pingüim e ela de Cinderela.
Bem que eles podiam ser polidos e educados e explicar o que o Provolone gritava insuportavelmente. Explicar em voz baixa, didaticamente, para que todos os Visons entendessem o que se passava. Que nada... O troço virou feira livre. Mais gritos e berros espetaculares e estrondosos. Se eram palavrões, nem imaginávamos. A esganiçada da Cinderela ficava até vermelha... Coitada. Imagino o que passa em casa o marido dessa donzela. Se eu fosse ele, eu a empurraria para dentro de um poço e lacrava a boca, dela... E o outro, o Pingüim, com cara de sapo-boi, nem te conto. O homem era nada mais que um megafone transcendental insuportável.
E o meu saco explodindo. A mulher do meu lado, chorando sem parar, os penteados das madames desmoronando com a vibração e finalmente, depois que o Provolone berrou uma, somente uma palavra durante três minutos e quarenta e oito segundos cronometrados, o silêncio se fez.
Os três se deram as mãos, adiantaram-se e se curvaram... Acho que com medo de chuva de ovos e tomates ou algo próximo que imaginavam receber. Na seqüência viraram-se e saíram rápido ( não são bobos...), talvez porque nem eles mesmos se suportem. A cortina subia e descia freneticamente e as luzes produziam efeitos especiais engraçados. Talvez tudo isso tenha sido quebrado pelos berros alucinantes daqueles três chatos incompreensíveis.
E o público em pé, aplaudia veementemente o fato deles terem ido embora. Quiçá para sempre !!!...E gritavam : - Bravo !!, Bravo !!!
E eu que achava que só eu é que tinha ficado bravo com aquela coisa infernal.
Quando acenderam a luzinha vermelha que indicava a saída, foi a maior felicidade da minha vida. Eu podia finalmente caminhar até o meu carro e ir para a minha casa ouvindo meus Blues.
Para vocês verem, até a mulher que estava ao meu lado, parou de chorar e o marido dela, ainda meio roxo, perguntou-me baixinho em som rouco : - Você sabe tirar essa porcaria dessa gravata do meu pescoço?
Odeio Ópera !!! Coisa de doente mental essa coisa chata. Aliás, a palavra...”Odeio”, tem cinco letras. Deveriam inventar uma palavra “Odeio”, com umas cinqüenta letras, para que eu pudesse gritá-la com todos os meus pulmões no ouvido daquele desgraçado do Provolone por uns vinte minutos ininterruptos.
Odeio Ópera !!!
Essa droga me instiga à vingança.


Renato Baptista

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01 janeiro 2010

Sonhos de Criança


Sonhos de Criança

Revivo de vez em quando lembranças da minha infância. São imagens que me vêm nítidas, atrevidas, desafiando o meu presente.
O cheiro do meu armário de brinquedos, o badalar do relógio de pêndulo do meu Pai, o som da caixinha de música da minha mãe, o tilintar da chuva na janela do meu quarto que anunciava a negativa das brincadeiras na rua.
Lembro da minha primeira bicicleta que tanto castiguei... ela me levou a conhecer o mundo. Recordo-me do aroma de comida que vinha da cozinha e que me lembrava que eu estava com fome. Lembro bem dos meus carros de autorama que eu montava e desmontava peça por peça de olhos fechados, incrementava, envenenava e que me traziam vários troféus.
Lembro-me muito bem dos meus times de futebol de botão que sobrevivem até hoje... Com exceção de alguns jogadores que faleceram com o tempo, racharam e se quebraram e que ganharam um funeral condizente com a sua importância de títulos lá na terra do quintal de casa.
Lembro das figurinhas, do piano que minha mãe tocava nos finais de tarde e nas manhãs de Domingo e dos meses de Julho de frio doído aqui em São Paulo.
E me recordo muito bem dos seriados de TV que eu adorava (assunto para horas a fio) e do meu primeiro radinho de pilha que eu colocava entre a fronha e o travesseiro para minha mãe não ver, pequenino, pretinho e que eu ligava para poder dormir ouvindo música toda santa noite.
Lembro de todos os meus desejos proibidos, inenarráveis, da minha ansiedade por ser alguém grande, adulto que eu não sabia, teria muita saudade de tudo aquilo, de tudo o que eu já era e já tinha.
Eram muitos sonhos... Incontáveis sonhos. Uma visão do mundo não muito clara, condizente com a minha idade. Pouca informação e no coração uma sensação estranha. Eu não sabia o que era. Um algo indefinido e indecifrável. Totalmente incompreendido para mim naqueles dias... uma presença que eu não entendia.
Era você que nascia para mim!
Renato Baptista